Artigo: PPCUB – Uma bomba-relógio contra Brasília

“Em um momento em que deveríamos estar mais conscientes do impacto ambiental e urbano de nossas ações, a aprovação do PPCUB mostra um total desprezo pelo planejamento cuidadoso que sempre caracterizou Brasília”, disse Leila

senadora leila barros, presidente da comissão de meio ambiente

Você sabia que o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Câmara Legislativa (CLDF) querem a construção de prédios comerciais até em áreas residenciais de Brasília? Com o apoio da bancada do governador, os deputados distritais também aprovaram, entre outras medidas temerárias, a instalação de pousadas, flats e motéis em quadras destinadas a escolas, igrejas e hospitais. Parece um pesadelo, mas é a realidade que estamos enfrentando com o chamado Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB). É bom que se diga que a “preservação” se tornou apenas uma palavra vazia no nome do projeto, pois, na prática, ele é um plano que desfigura a Brasília idealizada por nossos fundadores, e, se for implantado, será o mesmo que acionar uma bomba-relógio contra a qualidade de vida da capital do país.

A aprovação do PPCUB foi marcada por duras críticas e controvérsias. Não é para menos, pois ele ameaça o projeto urbanístico de Lucio Costa, que tem como um dos pilares o equilíbrio harmonioso entre áreas urbanas e verdes. Outro ponto preocupante é a maneira como o plano foi aprovado. Foram apresentadas 176 emendas, das quais 104 foram acatadas em plenário, incluindo algumas que haviam sido previamente rejeitadas nas comissões temáticas. No entanto, em nenhum momento a sociedade foi devidamente consultada ou ouvida sobre essas mudanças. Como pode um plano que afeta diretamente o cotidiano dos moradores ser aprovado sem a devida participação popular?

Em pleno Junho Verde, mês dedicado à conscientização ambiental, nossos representantes passaram a boiada sobre a qualidade de vida dos brasilienses. Os impactos do PPCUB são imensuráveis. O plano prevê, por exemplo, a construção de edifícios comerciais em áreas residenciais, o que pode aumentar o tráfego, a poluição e a especulação imobiliária. Tudo isso em uma cidade que sempre valorizou seu planejamento urbano inovador e suas amplas áreas verdes. Como garantir que o legado de Lucio Costa não será destruído por decisões tomadas sem a devida reflexão e consulta?

Menos mal que a pressão popular e a audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente do Senado conseguiram um pequeno avanço: o governador ensaiou um recuo e anunciou alguns vetos ao plano. No entanto, essas ações são insuficientes para proteger Brasília de um futuro incerto. É imprescindível que o PPCUB seja revisado de forma mais rigorosa, garantindo que a cidade não perca suas características únicas e sua qualidade de vida. Da forma como foi aprovado, as consequências de sua implementação podem ser devastadoras para a cidade e seus moradores. É essencial que fiquemos atentos e continuemos a pressionar por mudanças que realmente preservem o que há de mais valioso em nossa capital.

Em um momento em que deveríamos estar mais conscientes do impacto ambiental e urbano de nossas ações, a aprovação do PPCUB mostra um total desprezo pelo planejamento cuidadoso que sempre caracterizou Brasília. Devemos nos perguntar: queremos realmente sacrificar a qualidade de vida e o legado urbanístico de nossa cidade por interesses comerciais imediatos? É hora de agir e garantir que nossa voz seja ouvida. Brasília merece mais respeito e cuidado.

Não vamos permitir que a ganância destrua o que foi construído com tanto esmero. A aprovação do PPCUB pela CLDF sem uma consulta pública adequada levanta sérias dúvidas sobre os reais interesses por trás dessa decisão. Seria a pressão do setor imobiliário mais forte do que o compromisso com a preservação do patrimônio e o bem-estar dos cidadãos? A descaracterização urbanística da área tombada de Brasília a partir do PPCUB é um reflexo claro de um plano elitista que não considera a história e o planejamento urbanístico de nossa capital.

Especialistas apontam que a descaracterização urbanística da área tombada de Brasília é apenas o começo dos problemas que a cidade pode enfrentar. Projetos como esse podem abrir precedentes perigosos para futuras intervenções em que o lucro é colocado acima do interesse público. As emendas apresentadas e acatadas em plenário, algumas das quais haviam sido previamente rejeitadas, mostram um processo legislativo que carece de transparência e diálogo com a sociedade.

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense