No segundo dia de depoimentos, a CPI da Covid-19 ouviu, nesta quarta-feira (5), o ex-ministro da Saúde Nelson Teich. O médico, que deixou o comando da pasta menos de um mês depois de tomar posse, rechaçou a eficiência da estratégia de “imunidade de rebanho” para o enfrentamento à covid-19.
Questionado pela senadora Leila Barros (PSB-DF) sobre a eficácia da tese de que a maioria dos brasileiros deveria se contaminar com a covid-19, o ex-ministro foi categórico ao dizer que o conceito é um erro. “A imunidade você vai ter através da vacina, não através de pessoas sendo infectadas. Isso não é um conceito correto. Teve lugares que ficaram sobrecarregados porque houve muito mais casos que o sistema [de saúde] podia receber. A imunidade de rebanho, através de infecções, é um erro”, declarou.
A imunidade de rebanho foi defendida publicamente pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, desde o início da pandemia como forma de contrapor as medidas de isolamento adotadas nos estados e municípios.
Ao depor ontem à CPI da Covid, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou ter a “impressão” de que o governo buscava a imunidade de rebanho como estratégia para vencer a pandemia. “A impressão que eu tenho era que era alguma coisa nesse sentido, o principal convencimento, mas eu não posso afirmar, tem que perguntar a quem de direito”, afirmou o ex-ministro, que disse sempre ter se balizado pela ciência.
Falta de autonomia e medicamentos sem eficácia
O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro deu detalhes sobre sua saída do Ministério; sobre seu posicionamento em relação à cloroquina e sobre seu relacionamento com o general Eduardo Pazuello, que lhe sucedeu no comando da pasta.
Nelson Teich repetiu várias vezes que deixou o governo quando percebeu que não teria autonomia para fazer o que ele achava ser necessário para que o Brasil atravessasse uma crise tão difícil, situação que se refletiu na discordância em relação à cloroquina. “Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências quanto à eficácia e extensão do uso da cloroquina. Enquanto a minha convicção pessoal, baseada em estudos, era de que naquele momento não existia evidência para liberar, existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina. Isso aí foi o que motivou a minha saída. Sem a liberdade para conduzir o ministério conforme as minhas convicções, optei por deixar o cargo”, explicou.
Ainda sobre a cloroquina, Teich disse não ter conhecimento sobre a fabricação do medicamento em laboratórios do Exército. Ele negou também ter distribuído a substância para comunidades indígenas e que tivesse recebido ordem expressa do presidente da República para adoção do medicamento em todo o país. Teich explicou que se trata de uma droga com efeitos colaterais de risco, sem dados concretos sobre seus reais benefícios, e havia ainda preocupação com o uso indiscriminado e indevido por parte da população.
Com informações da Agência Senado