Plano aprovado no DF ameaça preservação de Brasília, dizem debatedores

Os impactos do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) foram tema central da audiência pública promovida nesta terça-feira (25) pela Comissão de Meio Ambiente do Senado (CMA). A presidente do colegiado, senadora Leila Barros (PDT-DF), juntamente com diversos debatedores, manifestou preocupações sobre prerrogativas que poderiam favorecer a especulação imobiliária, privilegiando interesses particulares e econômicos.

Senadora Leila Barros ressaltou que a preservação não deve ser vista como um obstáculo ao desenvolvimento. Ela destacou a importância de manter não apenas o legado arquitetônico de Oscar Niemeyer e do urbanista Lúcio Costa, mas também as características ambientais e urbanísticas de Brasília.

“Essas alterações, juntamente com a liberação de construções de comércios varejistas nos Setores de Embaixadas Norte e Sul e a permissão de pousadas e hotéis nas Quadras 900 Sul e Norte, levantam sérias preocupações.”

Senadora leila barros

O deputado distrital Fábio Felix (PSOL) criticou a rápida tramitação do PPCUB, enviado pelo Governo do Distrito Federal à Câmara Legislativa em março de 2024 e aprovado na semana passada. “Apresentei mais de 60 emendas, mas o projeto foi aprovado rapidamente, sem o devido debate”, afirmou. Felix destacou a necessidade de modernizar as cidades sem abrir mão de seus símbolos, arte e história.

O deputado distrital Gabriel Magno (PT) enfatizou a importância das diretrizes constitucionais para a preservação de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade. Segundo ele, o texto aprovado apresenta várias incongruências e “inúmeros cheques em branco” que favorecem a especulação imobiliária.

A consultora legislativa do Senado Federal, Romina Capparelli, afirmou que muitas das emendas aprovadas na Câmara Legislativa não passaram por comissões de mérito, o que resultou em inconsistências. “O processo de análise não está claro, dificultando o entendimento e a fiscalização futura”, disse Romina.

Janaina Domingos Vieira, secretária-adjunta de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal, defendeu que a minuta enviada à Câmara Legislativa foi amadurecida após audiências públicas e estudos técnicos. Ela negou a criação de novos lotes no setor de clubes e explicou que os hotéis e apart-hotéis já estavam previstos para essa região.

Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), destacou que o órgão fez recomendações ao governo do Distrito Federal, algumas das quais não foram acatadas, como a proposta de elevação do gabarito dos hotéis menores. Ele lamentou que o Iphan não participou do processo legislativo do plano na Câmara Legislativa.

Juliano Loureiro de Carvalho, coordenador do Núcleo do Distrito Federal do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), ressaltou a necessidade de analisar detalhadamente as propostas e seus impactos. Ele apontou que certas emendas oferecem “insegurança jurídica gigantesca”.

Alberto de Faria, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Brasília (Ceub), enfatizou a importância de um plano para evitar favorecimento a interesses específicos. Ele sugeriu incorporar a mobilidade do pedestre no plano, uma vez que a principal avenida tem velocidade máxima de 80 km/h, dificultando a travessia.

Benny Schvarsberg, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), classificou o PPCUB como “permissivo e licencioso”. Ele criticou a ausência de um capítulo dedicado aos instrumentos urbanísticos de preservação e a falta de uma planilha de parâmetros urbanísticos. Schvarsberg lembrou que Lúcio Costa, um ano antes de Brasília ser tombada, declarou a necessidade de preservar as características fundamentais da cidade para as futuras gerações.