Quando tinha 12 anos, Leila Barros sequer imaginava que trilharia o caminho do voleibol profissional e que chegaria à seleção brasileira. Na época, a menina, que se achava baixa, ainda treinava no Centrão, como é conhecido popularmente o Centro Educacional 2, em Taguatinga. Na década de 1980, a família não vislumbrava que o sonho se transformaria em realidade, mas o treinador Celso Ávila sempre confiou no que o destino reservaria a ela. Ele quem deu força para Leila aceitar novas propostas e seguir no esporte. Hoje, passados vários anos, ela não tem dúvida em atribuir a Celso o papel de mentor e de inspiração para sua carreira.
No início do mês, a pedido de Encontro Brasília, os dois se reencontraram para falar sobre os velhos tempos, em ambiente um tanto familiar, o Parque Ecológico Saburo Onoyama, palco de inúmeros treinos da equipe escolar da ex-jogadora. “Na 8ª série, ele já via em mim um grande potencial e uma aptidão para o esporte. Tanto é que, quando recebi a proposta para sair do Centrão, ele foi à minha casa para conversar com meus pais. Naquele tempo, as pessoas não levavam a sério o desporto escolar e foi muito difícil vencer o paradigma de sair de Taguatinga. Foi ele quem me ajudou nessa transição”, relembra Leila, que hoje é secretária de Esportes do Governo de Brasília. “O diferencial do Celso é que ele se interessava em saber como estavam seus alunos. Sempre nos reunia para conversar e entender o que nos preocupava fora da quadra. Ia além do universo competitivo e não deixava de nos passar ensinamentos. De fato, ele tem um lado paternal e eu gostava disso nele. Sem dúvida, era mais do que um técnico.”
Leila conta ainda que o professor cobrava disciplina, lançava desafios nos treinos e motivava a equipe, com um visão otimista do futuro que fazia questão de transmitir aos pupilos. “Ele alimentava os nossos sonhos. Sempre foi muito família e nos tratava como parte dela. Hoje, quando nos revemos, é como se o tempo não tivesse passado. É coisa de alma. E o Celso tem aquele sorriso ‘gaiato’ que me faz lembrar minha infância, quando eu ainda sonhava em ser uma jogadora”, exclama Leila, que afirma ter aprendido com o treinador a ser um bom exemplo para as pessoas, tanto na vida pessoal como na profissional.
Embora Celso reconheça ter construído uma relação próxima com todas as atletas que treinou, ele revela que Leila foi a que melhor compreendeu as orientações, o norteamento e os valores que transmitiu. “A minha preocupação não era se ela seria uma jogadora de sucesso ou não. Queria prepará-la para a vida. O vôlei era a minha ferramenta de educar, de formar cidadãos. E, se a Leila não tivesse uma cabeça bem formada, não chegaria aonde chegou. Talento, muita gente tem, mas, sem determinação e controle emocional, não adianta”, opina. Aos 62 anos, Celso é treinador no Colégio JK, onde trabalha com mais de 100 alunos e diz manter a mesma filosofia profissional.