Medalhista olímpica em Atlanta e Sydney, a ex-jogadora de vôlei Leila Barros é a entrevistada do Conversa com Roseann Kennedy. Brasiliense, hoje ela é secretária de esportes do governo do Distrito Federal e assumiu um dos maiores desafios de sua vida. No mundo da política, ela fala da responsabilidade de levar o esporte ao maior número de pessoas.
“Quando a gente fala de políticas públicas, muitos governos não compreendem a força do esporte. E a minha bandeira, o que me trouxe para a gestão, o que me trouxe para a política, foi o esporte. As pessoas focam muito no esporte de alto rendimento, no esporte como promoção de super-homens e mulheres, mas esporte é cidadania. Esporte são valores, esporte é saúde, esporte é bem estar”.
Leila queixa-se do entendimento daqueles que fazem política no país em relação à valorização do esporte. Para ela, é essencial a compreensão dessa prática de forma mais ampla.
“A compreensão do esporte de que ele, junto com a educação, agrega valores. Que ele, junto com a segurança, é prevenção; tirando os jovens da droga, do assédio e do tráfico. De que ele, junto com a saúde, é prevenção para a saúde dos idosos e desenvolvimento humano das crianças e do ser humano de forma geral… Essa é a minha luta… Das pessoas compreenderem o esporte em toda a sua plenitude”.
Atleta olímpica, Leila jogou na seleção brasileira de vôlei de 1988 a 2008. Conquistou duas medalhas de bronze, em Atlanta (1996) e Sydney (2000). Para ela, a sensação de receber um grande título pelo país é algo indescritível e que ela carrega sempre na memória.
“O que pensamos na hora que recebemos? Pensamos na luta, pensamos nas nossas famílias, naqueles que nos ajudaram a chegar a este momento. E também a gente pensa muito no povo brasileiro. Quando te colocam ali e você escuta o hino, você imagina tanta coisa, que tá fazendo tanta gente feliz nesse momento… Nós somos um povo tão carente dessas alegrias, eu acho que o esporte propicia isso para os brasileiros”.
Para a atleta, os resultados sempre foram fruto de muito esforço. Diz que nunca deixou de acreditar e sonhar que o seu destinho seria traçado nas quadras de vôlei. Leila, que durante toda a sua vida estudou em escola pública, relembra com saudosismo o importante papel que o desporto escolar teve em sua carreira.
“Eu lembro da minha mãe no tanque lavando roupa e eu começando com o vôlei, muito inspirada pela geração de prata, de 84, a geração de Los Angeles, que eram Renan, Montanaro, William e as musas Isabel, Jaqueline, Vera Mosa… E a minha mãe lá lavando no tanque, tinha um varalzinho de arame e eu pegava a bolinha preta de meia, eu não tinha bola… E aí eu ia por cima do varal, atacava e falava pra minha mãe: — Mãe, um dia você vai me ver jogando pelo Brasil”.
Leila relembra que várias vezes pensou em desistir. Mas diz que soube aproveitar as oportunidades e tirar o melhor das situações: “Eu sempre fui a mais baixa da seleção. Então sempre foi muita dificuldade pra mim. Mas com o tempo eu fui percebendo o que eu tinha de diferente. Eu era a única canhota, como fui até hoje a única canhota que atuou na seleção”.
Apesar do trabalho árduo, de treinos exaustivos, cuidados especiais na alimentação, diz que é maravilhoso estar dentro de quadra. E observa que a carreira de atleta sempre é muito prazerosa para quem já viveu isso. Por fim, ela finaliza: “Se Deus chegasse aqui pra mim e perguntasse: – E aí Leila, vai querer voltar de novo atleta? Eu diria: – Olha, mais umas dez vidas poderia colocar ali que eu viveria”.