O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta respondeu a questionamentos de 30 senadores e senadoras, nesta terça-feira (4), na CPI da Vocid-19. Ele afirmou que, durante sua gestão, a relação entre os ministérios da Saúde e da Economia era distante. A falta de sintonia entre as pastas no enfrentamento da pandemia foi explorada pela senadora Leila Barros (PSB-DF), que perguntou se havia coordenação e cooperação entre as pastas para o enfrentamento da pandemia e seus efeitos sociais.
“O distanciamento da equipe econômica era real, não posso negar”, respondeu Mandetta, acrescentando que ele conversava com o segundo escalão do Ministério da Economia, pois o ministro Paulo Guedes não atendia seus pedidos de reunião.
Para Mandetta, o governo passou a contrapor saúde e economia, um grande erro, já que os países que colocaram a saúde em primeiro lugar tiveram melhores resultados econômicos. Para ele, isso talvez tenha acontecido por influência do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes. Parte da equipe econômica e do governo, continuou, acreditava que a pandemia acabaria no final de 2020.
Mandetta afirmou que equipe econômica ignorava alertas e “não compreendia o tamanho” da crise. “Eu disse a todos eles quando a pandemia ia crescer, quando ia ser o aumento, quando que ela ia estabilizar, quando ela ia cair, o intervalo para ter uma segunda onda, o número possível de mortes em 2020, o número possível de mortes até o final da pandemia. Todas essas informações eles tinham. Agora, por que pautaram de uma maneira diferente, eu realmente fico em dívida com a senhora”, disse Mandetta em resposta à Leila Barros.
Além disso, Mandetta acusou Guedes de ser “desonesto intelectualmente” por ter insinuado que ele não teria agido para a compra de vacinas.
Número de mortes
A líder da bancada feminina no Senado, senadora Simone Tebet (MDB-MS), quis saber de Mandetta se o número total de mortos no Brasil poderia ser menor se o governo tivesse levado em conta os alertas científicos. Segundo Mandetta, o governo poderia ter evitado o colapso do sistema de saúde e amenizado o avanço da pandemia se tivesse promovido as medidas sanitárias. “Teríamos feito muito melhor, senadora. Essa segunda onda é o ápice desse tipo de decisão tóxica e equivocada. Acredito que essa segunda onda seria menor”, disse Mandetta.
O ex-ministro disse que sob o comando dele a Pasta havia preparado campanha publicitária contra covid-19, mas o governo Bolsonaro não queria comunicar medidas de precaução: preferia um tom “ufanista”.
Bula da cloroquina
No início da tarde, em resposta ao relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros (MDB-AL), Mandetta falou sobre um suposto documento que tratava da bula do medicamento conhecido como cloroquina. “Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu nunca havia conhecido. O presidente tinha um assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido, daquela reunião, que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação de cloroquina para coronavírus”, contou.
De acordo com Mandetta, o próprio presidente da Anvisa, André Barra Torres, rechaçou a hipotese de alterar a bula do medicamento. lá, que falou: “O ministro Jorge Ramos falou que era só uma sugestão. Mas é uma sugestão de alguém. Alguém pensou e se deu ao trabalho de botar aquilo num formato de decreto. Eu imagino que ele [Jair Bolsonaro] construiu fora do Ministério da Saúde alguns aconselhamentos que o levaram para essas tomadas de decisões que ele as teve, mas eu não saberia nomear a cada uma delas — disse Mandetta.
Antes de a reunião ter fim, o presidente da CPI garantiu que senadoras terão direito à fala pela bancada Feminina na primeira parte de todas as reuniões da CPI da Pandemia.
Com informações da Agência Senado