Leila Barros – Senadora e procuradora especial da mulher no Senado
Texto publicado no jornal Correio Braziliense
Desde 1975, a cada 8 de março o mundo volta suas atenções para a questão feminina. É a data na qual se celebra o Dia Internacional da Mulher. De lá para cá, é inegável que avanços aconteceram e muitas conquistas foram alcançadas. Porém, também não se pode omitir que ainda é longo e penoso o caminho que nos levará a tão almejada igualdade de gênero. Na verdade, a própria condição feminina continua a nos exigir muito mais luta e reflexão do que festa e celebração. Prosseguimos sendo vítimas de machismo, misoginia e violência doméstica. Nossa participação política é insuficiente. No mercado de trabalho, mesmo ocupando cargos iguais e desempenhando o mesmo tipo de serviço, recebemos menores salários.
A sociedade ainda não reconhece o papel feminino. Da mesma forma, não é comum encontrar uma mulher no topo da hierarquia das grandes empresas ou instituições. Quando isso ocorre, essa pessoa do sexo feminino que superou todo tipo de adversidade para – com sua competência e valor – ascender profissional ou socialmente, muitas vezes é vista com desdém ou desconfiança. Nesses tempos de mídias sociais, esse tipo de perseguição e preconceito se torna mais evidente e constante ainda. Porém, se formos observar o outro lado da pirâmide social, a situação é completamente inversa. A Organização das Nações Unidas divulgou que cerca de 70% das 1,3 bilhão de pessoas que sobrevivem na linha de pobreza são mulheres.
Esse foi um dos dados que motivou a ONU a escolher como tema para o Dia da Mulher de 2022 “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável”. Estudos da organização mundial descobriram que, em virtude das desigualdades sociais e por sua posição de maior vulnerabilidade, as mudanças climáticas e seus efeitos devastadores atingem mais as mulheres. Também é sobre o sexo feminino que recairá a maior parte dos prejuízos provocados pela mudança do clima. Portanto, nada mais justo que as mulheres também participem da construção de um modelo que dê sustentabilidade ao meio ambiente.
Somos todos habitantes desse planeta chamado Terra e devemos ter direitos e compromissos semelhantes e dividir responsabilidades. Até porque, nesse período todo em que majoritariamente os homens deram as cartas, as coisas não parecem ter ido muito bem. Essa mesma união de esforços entre os gêneros, que a ONU propõe para salvar o meio ambiente da agonia, deve ser replicada nas esferas de poder aqui no nosso país. Sobretudo depois de mais de dois anos de pandemia e de uma guerra cujos efeitos e consequências catastróficas assombram o mundo, precisamos unir as capacidades de mulheres e homens para encontrar soluções que minimizem o sofrimento de nossa gente. O Brasil precisa dessa parceria para se reconstruir de forma mais justa e igualitária.
A Câmara dos Deputados pode colaborar aprovando, por exemplo, o PLC 130/2011, que estabelece multa para empresas que remunerem com salários diferentes homens e mulheres que façam o mesmo trabalho. Os deputados também podem votar as emendas ao PL 123/2019, que reserva pelo menos 5% dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para o combate à violência contra a mulher. Como relatora da matéria no Senado, sei o quanto essa lei será importante para preservar vidas. Nós, senadores, podemos deliberar sobre uma reforma tributária que simplifique o recolhimento de impostos e contribua para a geração de emprego e renda e o aumento da competitividade de nossas empresas. Também temos que nos debruçar sobre as diversas matérias que tratam da questão ambiental. Entre eles, temos que impedir a flexibilização do controle e utilização de agrotóxicos. Atuando em conjunto, mulheres e homens, temos muito o que contribuir para um futuro melhor.